A água é um elemento fundamental para o desenvolvimento sustentável dos países (Mendes, 2010MENDES, B.: Microbiologia da água, Ed. Lidel-Edicões técnicas, Lda., Ferreira, W.F.C, Sousa, J.C.F.& Lima, N (coords) ed., Lisboa, Portugal, 622 p., 2010, ISBN: 978-972-757-515-2.). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo menos dois bilhões de pessoas no mundo usufruem de uma fonte de água contaminada com fezes. Estima-se que a água potável contaminada ocasione 502 mil mortes diarreicas por ano. No entanto, para padronizar e regulamentar a qualidade da água, a OMS aponta diretrizes internacionais para serem usadas como base em todo o mundo, com a intenção de proporcionar a proteção da saúde pública (Glowack e Crippa, 2019GLOWACK, D.S.; CRIPPA, L.B.: “Avaliação microbiológica da qualidade da água em bebedouros de uma instituição de ensino superior de Caxias do Sul-RS”, Revista Brasileira de análises Clínicas, 2019.).
Os critérios de qualidade da água da Organização Mundial da Saúde (WHO - World Health Organization, 1996WHO - WORLD HEALTH ORGANIZATION: Guidelines for drinking water quality, Ed. WHO - World Health Organization, Second ed., Geneva, Switzerland, 1996., 2006WHO - WORLD HEALTH ORGANIZATION: Guidelines for drinking water quality, Ed. WHO - World Health Organization, 3rd. ed., vol. 1 Recommendations, Geneva, Switzerland, 2006., 2008WHO -WORLD HEALTH ORGANIZATION: Guidelines for Drinking-Water Quality, Ed. WHO - World Health Organization, vol. 1 Recomendations, Geneva, Switzerland, 2008.), correspondem a uma dada fase do conhecimento científico, no que se refere à relação de causa/efeito, e estão em aperfeiçoamento constante, podendo ser introduzidos novos critérios ou alterados os existentes à medida que progride o conhecimento científico. As normas de qualidade fixadas na legislação nacional poderão sofrer do mesmo modo as correções necessárias. Segundo Boaventura e Leitão, (2013) citado por Manuel et al. (2018)MANUEL, P.; LEITÃO, A.A.; BOAVENTURA, R.A.R.: “Qualidade da Água para Consumo Humano na Cidade do Uíge(Angola): Água Tratada do Sistema de Abastecimento Público e Água não Tratada de Fontes Alternativ”, Revista Internacional em Língua Portuguesa, : 75-93, 2018, ISSN: 0872-2587., o processo de tratamento da água pode ser menos ou mais complexo, incluindo etapas de pré-oxidação, coagulação-floculação, decantação, filtração, afinação e desinfeção, em função da qualidade da água bruta. Importa realçar que, quanto pior for a qualidade desta água, tanto mais complexo e caro será o seu processo de tratamento para produzir uma água potável. Para Manuel et al. (2018)MANUEL, P.; LEITÃO, A.A.; BOAVENTURA, R.A.R.: “Qualidade da Água para Consumo Humano na Cidade do Uíge(Angola): Água Tratada do Sistema de Abastecimento Público e Água não Tratada de Fontes Alternativ”, Revista Internacional em Língua Portuguesa, : 75-93, 2018, ISSN: 0872-2587. ressaltam que, a principal causa de contaminação ou poluição destas águas está associada à ação natural e à ação antropogénica, originada principalmente pelo lançamento direto das águas residuais domésticas (contendo microrganismos patogénicos, poluentes orgânicos e nutrientes); águas residuais industriais (que podem conter poluentes inorgânicos e orgânicos) sem tratamento ou com tratamento inadequado, e águas de drenagem das áreas agrícolas (contaminadas através do uso de fertilizantes e material em suspensão).
No que tange à disponibilidade da água potável e do saneamento básico para a sua população, Angola continua sendo ainda um dos países críticos, tendo em conta o crescimento económico que o país está registando e do grande esforço do Governo nesta área através do Plano de Ação Estratégico do Sector de Águas para o período 2004-2016 (Conselho de Ministros-Angola, 2004CONSELHO DE MINISTROS-ANGOLA: Resolução n o 10/04, de 11 de Junho. Plano de Acção Estratégico do Sector de Águas para o Período 2004-2016, Inst. Conselho de Ministros, Angola, Luanda, Angola, 2004.). A saúde em Angola é ainda classificada entre as piores do mundo e o índice de doenças e mortes, sobretudo com origem na má qualidade da água, continua muito elevado (Manuel et al., 2018MANUEL, P.; LEITÃO, A.A.; BOAVENTURA, R.A.R.: “Qualidade da Água para Consumo Humano na Cidade do Uíge(Angola): Água Tratada do Sistema de Abastecimento Público e Água não Tratada de Fontes Alternativ”, Revista Internacional em Língua Portuguesa, : 75-93, 2018, ISSN: 0872-2587.). A mortalidade infantil é estimada em 76,5 por 1000 nascidos vivos (175,9 em 2011) e a esperança de vida à nascença em 56 anos, embora fosse apenas de cerca de 39 anos em 2011 (Index Mundi, 2016INDEX MUNDI: Index Mundi, [en línea], Index Mundi, 2016, Disponible en:http://www.indexmundi.com/angola/.).
A água utilizada para o consumo humano deve ser agradável ao paladar, não deve causar danos à saúde pública e não deve causar danificação ou destruição das diferentes partes dos sistemas de abastecimento. Angola é ainda um país em que a regulação da qualidade das águas, sejam naturais ou tratadas, não está plenamente implementada. Embora no país haja legislação que permite a classificação das águas doces superficiais destinadas à produção de água para o consumo humano (Presidente da República-Angola, 2011PRESIDENTE DA REPÚBLICA-ANGOLA: Decreto Presidencial n o 261/11, de 6 de Outubro, no. Diário da República no 193 - 1a Série, Inst. Presidente da República-Angola, Luanda, Angola, 2011.). No entanto, não existe ainda uma legislação angolana que estabeleça adequadamente as normas de qualidade da água para o consumo humano e outros usos (rega, proteção da vida piscícola, recreio, etc.), pelo que é necessário recorrer a diretivas da OMS e a documentos legais de outros países, como por exemplo, no Decreto-Lei nº 306/2007 de 27 de Agosto de Portugal Ministério do Ambiente-Portugal (2007)MINISTÉRIO DO AMBIENTE-PORTUGAL: Decreto-Lei n o 306/2007, de 27 de Agosto, no. Diário da República no 164 - 1a Série A, Inst. Ministério do Ambiente-Portugal, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Lisboa, Portugal, 2007., Brasil Ministério da Saúde-Brasil (2011)MINISTÉRIO DA SAÚDE-BRASIL: Portaria n o 2914 de 12 de Dezembro de 2011, Inst. Ministério da Saúde do Brasil, Brasília, Brasil, 2011., que transpõe para o direito português e brasileiro diretivas da União Europeia e da América Latina sobre a qualidade da água. Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo avaliar a qualidade físico-química e microbiológica da água consumida pela população da cidade do Huambo.
A província do Huambo, também conhecida por '' Planalto Central '', ocupa o 11° lugar dentro do território angolano e fica situado na região centro-oeste de Angola. É limitada ao noroeste e ao leste pela província do Bié, ao sul, pela província da Huila, ao oeste pela cidade de Benguela e ao noroeste pela província do Cuanza Sul. Corresponde á superfície planáltica de maior altitude do território angolano, situada acima da curva dos 1500 m. Estende-se para o Sul, ocupando uma superfície de 35 771 km2 (2,61 % da extensão nacional), sendo sua capital a cidade do Huambo. O município sede ocupa o 8° lugar dentro de um grupo de 11 municípios. A província atravessa regiões essencialmente agrícolas, e uma região urbana importante. Situa-se entre os paralelos 100 27' e 140 16' de latitude Sul e os meridianos 140 14' e 170 37' de longitude Este (Atlas Geográfico, vol. 1, 1986).
Nesta pesquisa, foram estudadas duas categorias de águas consumidas maioritariamente pela população da cidade do Huambo, que se agruparam em duas classes distintas:
Água tratada do Sistema de Abastecimento Público: Torneiras
Água não tratada de fontes alternativas: Poços profundos (cacimbas)
Foram acondicionadas duas amostras a temperatura ambiente e outra em condições de refrigeração. Na rede do sistema de abastecimento público (torneiras) colheu-se oito amostras e oito em poços profundos (cacimbas). As amostras foram colhidas nos meses de Setembro de 2013 a Janeiro de 2014, seguindo o padrão estabelecido no Manual “Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater" (Eaton et al., 2005EATON, A.; CLESCERI, L.; RICE, E.; GREENBERG, A.: Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater, Ed. APHA, 21th Edition ed., Washington, USA, 2005.). As amostras de água foram colhidas em frascos de vidro de 500 mL estéreis (amostras para análise microbiológica). As análises iniciaram após a chegada das amostras ao laboratório de Microbiologia do Instituto Superior Politécnico de Bragança. Na colheita das amostras teve-se a precaução de que estas fossem homogéneas, ou seja, representativas do local amostrado.
A seleção dos parâmetros a analisar e a avaliação do cumprimento dos respectivos valores paramétricos ou limite baseou-se principalmente na legislação portuguesa no Decreto-Lei nº 306/2007 de 27 de Agosto (Ministério do Ambiente-Portugal, 2007MINISTÉRIO DO AMBIENTE-PORTUGAL: Decreto-Lei n o 306/2007, de 27 de Agosto, no. Diário da República no 164 - 1a Série A, Inst. Ministério do Ambiente-Portugal, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Lisboa, Portugal, 2007.).
Os parâmetros físico-químicos analisados neste estudo foram: pH, oxigénio dissolvido (OD), condutividade, acidez, cloretos, cálcio, sulfatos, fosfatos, oxidabilidade, alcalinidade, dureza total, magnésio, nitritos, nitratos e carência bioquímica de oxigénio.
Em termos de parâmetros microbiológicos, foi realizada uma análise qualitativa (presença/ausência) de coliformes totais e de Escherichia coli (E. coli). A análise e contagem de coliformes totais e E. coli foi realizado utilizando o SimPlate® da Bio Control (método oficial AOAC 2005.03) e procedeu-se de acordo com as recomendações do fabricante. O meio de cultura fornecido foi hidratado em 100 mL de água estéril. Em todos os tubos de ensaio foram colocados 9 mL de meio de cultura previamente hidratado e 1 mL da amostra, homogeneizou-se com auxílio do vortex. Seguidamente, verteu-se o conteúdo dos tubos para uma placa contendo 84 poços e espalhou-se uniforme e cuidadosamente o líquido com movimentos circulares para que os poços ficassem totalmente cobertos e sem bolhas de ar. Por último, o excesso foi removido. As placas foram incubadas a 37ºC durante 24 a 48 horas. Após o período de incubação, procedeu-se a enumeração dos coliformes totais através da contagem do número de poços em que ocorreu a mudança de cor do meio de cultura. Enquanto, para a identificação e enumeração da E. coli, procedeu-se à contagem do número de poços em que se observou a fluorescência após exposição da placa a uma lâmpada de UV a 365 nm. Com base numa tabela fornecida pelo fabricante, calculou-se o número de coliformes e Escherichia coli presentes na amostra e os resultados foram expressos em UFC/mL.
Foi constatada a presença de coliformes totais em 100 % das amostras (Tabela 1). Os resultados indicaram que as amostras de água da torneira para os microrganismos crescidos a 22ºC como a 37ºC apresentaram valores superiores ao legislado Ministério do Ambiente-Portugal (2007)MINISTÉRIO DO AMBIENTE-PORTUGAL: Decreto-Lei n o 306/2007, de 27 de Agosto, no. Diário da República no 164 - 1a Série A, Inst. Ministério do Ambiente-Portugal, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Lisboa, Portugal, 2007., o qual recomenda que o número de colónias a 22ºC e a 37ºC da água destinada ao consumo humano não ultrapasse o valor de 100 UFC/mL e 20 UFC/mL respectivamente. Isto significa que as águas do presente trabalho são impróprias para o consumo humano. Tal resultado pode estar associado a falta de higienização nos tanques da água, à ineficiência da filtração da torneira ou até mesmo a contaminações no encanamento que vai do reservatório da companhia da água até as caixas da água dos usuários. De acordo com o Ministério do Ambiente-Portugal (2007)MINISTÉRIO DO AMBIENTE-PORTUGAL: Decreto-Lei n o 306/2007, de 27 de Agosto, no. Diário da República no 164 - 1a Série A, Inst. Ministério do Ambiente-Portugal, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Lisboa, Portugal, 2007., os valores paramétricos para água destinada ao consumo humano são <10 UFC/mL. Convém salientar que a contaminação das águas por coliformes totais pode ter outra origem (contaminação ambiental, manipuladores, transporte) e não apenas por fezes.
Em conformidade com Rocha et al. (2010)ROCHA, E.S.; ROSICO, F.S.; SILVA, F.L.; LUZ, T.C.S.; FORTUNA, J.L.: “Análise microbiológica da água de cozinhas e/ou cantinas das Instituições de Ensino do município de Teixeira de Freitas (BA)”, Revista Baiana Saúde Pública, 34(3): 694-705, 2010., esse tipo de contaminação pode ocorrer durante a captação de água no sistema público; no entanto, na maioria das vezes, ela está associada à má condição de higiene na tubulação e no reservatório onde é acondicionada a água que alimenta as torneiras. A falta de monitoramento acaba criando condições favoráveis para o desenvolvimento e a sobrevivência de microrganismos patogênicos aos seres humanos. Os resultados do presente estudo corroboram os resultados encontrados por Benguela (2006)BENGUELA, Z.B.: Caracterização do Sistema de Abastecimento de Água do Município do Huambo, Universidade dos Açores, Tese de Mestrado em gestão e Conservação da Natureza, Município do Huambo. Angola, 2006. ao analisar o sistema de abastecimento de água de consumo da cidade do Huambo, o qual verificou altos índices de contaminação por bactérias coliformes totais, sendo esta a principal causadora de doenças intestinais.
Como base nos parâmetros, E. coli (indicador de contaminação fecal) não foi observado em nenhuma das amostras analisadas, o que pode estar relacionado com as condições de transporte e manuseamento da água. De fato, trata-se de microrganismos muito sensíveis as condições de estresse (WHO - World Health Organization, 2002WHO - WORLD HEALTH ORGANIZATION: Guidelines for Dranking Quality Addendum: Microbiological agents, Ed. WHO - World Health Organization, In Dranking Water, Geneva Second Edition, Geneva, Switzerland, 2002, ISBN: 92-4-154535-6.).
Em um estudo similar realizado no Uíge, Manuel et al. (2018)MANUEL, P.; LEITÃO, A.A.; BOAVENTURA, R.A.R.: “Qualidade da Água para Consumo Humano na Cidade do Uíge(Angola): Água Tratada do Sistema de Abastecimento Público e Água não Tratada de Fontes Alternativ”, Revista Internacional em Língua Portuguesa, : 75-93, 2018, ISSN: 0872-2587. observaram que águas do sistema alternativo revelaram ter contaminação fecal em quase 100 % das amostras de água das cacimbas e em mais do 80 % das amostras de água dos furos artesianos, concluindo que existe uma relação entre qualidade da água consumida e a prevalência de doenças de veiculação hídrica predominantes na população. Essas doenças só poderão diminuir com a melhoria da qualidade da água fornecida à população.
No estudo de Rocha et al. (2012)ROCHA, F.A.G.; BEZERRA, J.R.G.; SOUZA, J.A.B.; BEZERRA, L.K. de M.; PONTES, E.D.M.; ARAÚJO, M.F.F.: Padrão microbiológico de potabilidade da água destinada ao uso humano no IFRN, Câmpus Currais Novos. VII CONNEPI, 2012. sobre o padrão microbiológico de potabilidade da água destinada ao consumo humano no IFRN, a análise de Escherichia coli apresentou resultados idênticos ao deste estudo, os quais mostraram-se negativos para a presença deste microrganismo. Em relação aos esporos de Clostridium sulfito-redutores, verificou-se ausência de esporos em todas as amostras, sugerindo que não houve contaminação fecal remota. Também se observou que Pseudomomas aeruginosa estava ausente em todas as amostras estudadas.
Os valores obtidos para todos os parâmetros analisados, que apresentaram resultados positivos, foram superiores nas águas transportadas à temperatura ambiente, sugerindo a necessidade do transporte ser feito de forma adequada.
De acordo com os dados obtidos através das análises efetuadas na água, os parâmetros físico-químicos (Tabela 2), apresentaram o valor do pH com uma dispersão muito pequena (< 5 %). O valor médio do pH das amostras de água analisadas oscilou entre 6,0 e 6,8. As amostras de água do poço apresentaram um valor médio mais baixo comparativamente com as águas da torneira.
Observou-se que, os valores obtidos para a água da torneira estiveram de acordo com o estabelecido pelo Decreto-Lei nº 306/2007 de 27 de Agosto Ministério do Ambiente-Portugal (2007)MINISTÉRIO DO AMBIENTE-PORTUGAL: Decreto-Lei n o 306/2007, de 27 de Agosto, no. Diário da República no 164 - 1a Série A, Inst. Ministério do Ambiente-Portugal, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Lisboa, Portugal, 2007., que estabelece que o pH para águas destinadas ao consumo humano devem situar-se entre 6,5 e 9,0. Embora este parâmetro não seja muito relevante ao nível da saúde humana, verificou-se que o pH da água do poço foi ligeiramente inferior ao legislado.
De acordo com Massoud (1992)MASSOUD, Z.: Biorremediação em águas residuais: remoção de fosfatos utilizando microalgas Chlorella vulgaris imobilizadas em meio de alginato de sódio, Universidade do Porto, Faculdade e Ciências, Departamento de Zoologia e Antropologia, Terra Viva. Instituto Piaget-Dissertação (Mestrado), Portugal, 1992.; Wetzel (1993)WETZEL, R.G.: Limnologia, Inst. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal, 1993.; Mendes e Oliveira (2004)MENDES, B.; OLIVEIRA, J.F.S.: Qualidade da água par o consumo humano, Ed. Lideledições técnicas, Lda., Lisboa, Portugal, 2004, ISBN: 978-972-757-274-8., o fósforo pode ser encontrado na natureza sob a forma mineral e orgânica. É caracterizado como elemento essencial à vida e não tóxico aos seres vivos. No entanto, o excesso deste nutriente na água aumenta a proliferação das bactérias, contribuindo para o efeito no processo de eutrofização. O valor do nível de fósforo no presente estudo ficou abaixo do estabelecido pelo Decreto-Lei nº 306/2007, o qual regula um limite máximo para o fosfato de 250 mg/L (Tabela 2).
Importa realçar que, o consumo de água com alto teor de nitrato leva a diminuição da capacidade de transporte de oxigênio no sangue, principalmente em crianças que podem desenvolver a meta-hemoglobinemia. O Decreto-Lei nº 306/2007 de 27 de Agosto Ministério do Ambiente-Portugal (2007)MINISTÉRIO DO AMBIENTE-PORTUGAL: Decreto-Lei n o 306/2007, de 27 de Agosto, no. Diário da República no 164 - 1a Série A, Inst. Ministério do Ambiente-Portugal, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Lisboa, Portugal, 2007., estabelece um valor máximo de 50 mg/L NO3 para o nitrato, dessa forma, os valores analisados não estão dentro do limite permitido no que diz respeito ao consumo humano.
Em relação aos valores de alcalinidade, acreditasse que estes estão relacionados com a presença de bicarbonatos, caracterizado pela faixa de pH situada entre 6,5 - 9,0. Na análise da alcalinidade, observou-se valores abaixo de 25 mg/L CaCO3, indicando que as águas com níveis de alcalinidade baixo estão associadas a águas que provocam corrosão das condutas, já as águas com alcalinidade elevada causam incrustações de CaCO3 e, sendo assim, classificada como água impróprias para o consumo humano. Estudos realizados por Koch (2010)KOCH, P.: Water Soures Principales and pratices of water supply operations series, Ed. American Water Works Associantion, USA, 2010, ISBN: 1-58321-782-7. dão conta de que as águas com alcalinidade muito elevada, tem grande poder tampão, isto é, o pH da água manter-se-á estável com á adição de um ácido. Quando a alcalinidade é muito baixa, pequenas quantidades de ácido podem diminuir drasticamente o pH.
Na avaliação dos parâmetros de cloretos, acidez, nitritos, sulfatos, cálcio, magnésio, condutividade, oxidabilidade, carência bioquímica de oxigénio e dureza total, observou-se que os valores não se encontraram dentro dos padrões legais vigentes em lei para as águas do consumo humano (Tabela 2). Dentre os gases dissolvidos na água, o oxigênio é um dos mais importantes na dinâmica e caracterização dos ecossistemas aquáticos (Nascimento, 2010NASCIMENTO, R.F.F.: Utilização de dados MERIS e “in situ” para a caracterização bio-óptica do reservatório de Itumbiara, GO, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Dissertação (Mestrado em Sensoriamento Remoto), São José dos Campos, SP, 91 f p., 2010.). De acordo com Macedo e Sipaúba-Tavares (2010)MACEDO, C.F.; SIPAÚBA-TAVARES, L.H.: “Eutrofização e qualidade da água na piscicultura: consequências e recomendações”, Boletim do Instituto de Pesca, 36(2): 149-163, 2010, ISSN: 0046-9939, e-ISSN: 1676-2305. o teor de O2 na água vária principalmente com a temperatura e com a altitude, quanto maior sua concentração melhor a qualidade da água.
Para Mendes e Oliveira (2004)MENDES, B.; OLIVEIRA, J.F.S.: Qualidade da água par o consumo humano, Ed. Lideledições técnicas, Lda., Lisboa, Portugal, 2004, ISBN: 978-972-757-274-8. o oxigénio dissolvido não é um elemento característico da água, mas conserva as suas propriedades oxidantes, intervindo em reacções de oxidação (com o ferro), e em fenómenos químicos e electroquímicos. Pode também intervir em processos de corrosão das matérias com quem contacta, ou ainda por meio de processos biológicos em larga escala. No estudo, o valor médio do oxigénio dissolvido das amostras de água analisadas oscilou entre 3,30 e 4,86. As amostras de água do poço apresentaram um valor médio mais baixo comparativamente com as águas da torneira. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (WHO -World Health Organization, 2008WHO -WORLD HEALTH ORGANIZATION: Guidelines for Drinking-Water Quality, Ed. WHO - World Health Organization, vol. 1 Recomendations, Geneva, Switzerland, 2008.), o esgotamento do oxigénio na água pode estimular a redução microbiana do nitrato a nitrito e sulfato a sulfito; podendo ainda causar o aumento da concentração de ferro ferroso (Fe2+) em solução.
Nos resultados obtidos nas análises das amostras de água foi possível evidenciar que, de maneira geral a província do Huambo apresenta baixas condições de fornecimento d’água para a população.
As águas provenientes dos poços e das torneiras são directamente distribuídas para as residências, estando fora dos padrões de potabilidade definidos pelo Decreto-Lei nº 306/2007 de 27 de Agosto.
Faz-se necessário uma constante monitoração, em parâmetros físico-químicos e microbiológicos de qualidade da água fornecida a população, evitando assim possíveis contaminações e danos a saúde daqueles que dela utilizam.